quinta-feira, 30 de junho de 2016

CORMORANT E A FORTALEZA DE PARANÁGUA

 HISTORICAMENTE O "CASO CORMORANT"

 FORTALEZA DE NOSSA SENHORA DOS PRAZERES DE PARANAGUÁ - PR


PRIMEIRA BATERIA DE CANHÕES DA FORTALEZA -
COM EXCEÇÃO DO QUARTO CANHÃO, OS DEMAIS SÃO 
TODOS DO SÉCULO XIX
   
   DESENHO RETRATANDO O HMS CORMORANT


 Jornal Dezenove de Novembro de Curitiba  em 01-07-1900 comentando 
 o aniversário de 50 anos do
  fato ocorrido. 

 

Placa Comemorativa de 100 anos do
Confronto,  está na fortaleza logo na 
entrada, ao lado esquerdo.

Em 1850, episódio relacionado à supressão do tráfico de escravos quase degenerou em séria questão diplomática entre o Brasil e a Inglaterra: um cruzador inglês, o HMS Cormorant adentrou a Baía de Paranaguá e apresou os brigues Sereia e Dona Anna, e a galera Campeadora, tidos, todos, como navios negreiros. Depois das formalidades exigidas pelo comandante inglês Herbert Schomberg, o cruzador, arrastando atrás de si os barcos apressados, tomou o rumo da barra, sendo, então, interceptado por salvas que partiam da fortaleza e que o danificaram bastante, deixando-o à deriva.  

 

Essa embarcação a vapor da marinha de guerra inglesa, que invadindo nossas águas territoriais e violando o direito de soberania brasileiro, aprisionara três navios brasileiros naquele porto, sob a acusação de tráfico negreiro (1º de julho de 1850). O Cormorant, baseado no Rio da Prata, desempenhava missão de repressão ao tráfico negreiro no litoral atlântico do continente americano, sob o comando do Capitão Herbert Schomberg. Sendo esta  a primeira vez que uma fortificação brasileira atacou uma embarcação inglesa.
 
Na ocasião, a fortaleza era comandada pelo capitão Joaquim Ferreira Barbosa, posteriormente destituído do posto e submetido a Conselho de Guerra. A ação, entretanto, fora por ele desautorizada, mas levada a termo por exaltado grupo de parnaguaras que desejava revidar à descabida intromissão estrangeira em assuntos nacionais.  

O CONFRONTO


Ao aparecer o Cormorant rumo à barra na manhã de segunda-feira dia 1º de julho de 1850 e trazendo consigo as três naus brasileiras, o comandante da fortaleza fez seguir ao seu encontro um escaler, cuja finalidade era a de entregar um ofício ao capitão inglês. Os ternos deste ofício faziam menção de que o cruzador de guerra deveria seguir viagem sem os navios apreendidos, deixando este em poder das autoridades locais e na desobediência deste ofício a fortaleza faria fogo ao vapor da Royal Navy.  

 O próprio comandente da fortaleza da Ilha do Mel assinara o documento. O ofício nunca foi entregue, pois o escaler, com o sargento da Guarda Nacional Tomaz José de Oliveira, foi repelido com tiro de pólvora seca pelo Cormorant. Ao mesmo tempo do disparo ao escaler a fortaleza revidou com um tiro e novamente o Cormorant fez fogo, agora para a ilha, sendo alvejada por várias bombas de calibre 80 e balas 36. 

A guarnição da Ilha do Mel fez novos disparos, agora com todas as peças da fortaleza e nos 30 minutos que se seguiram houve o confronto entre a artilharia brasileira na fortaleza e os seis canhões do cruzador HMS Cormorant.

A batalha só terminou quando os canhões da fortaleza da barra já não tinham eficácia no alcance ao cruzador inglês. O HMS Cormorant teve danos consideráveis e duas baixas, uma fatal e outro na enfermaria durante toda a viagem rumo a Africa. 

No combate o Cormorant ficou limitado em suas manobras decorrente ao reboque das naus brasileiras. No lado brasileiro os danos foram mínimos fisicamente e apenas feridos leves. Para o reparo no Cormorant o capitão Hubert levou o cruzador na enseada das conchas e concentrou-se na popa e na pá de bombordo, locais com sérias avarias.

Demais danos seriam reparados em terra firme. Neste mesmo local o capitão Schumberg incendiou as brigues Donna Ana e o Sereia e montou tripulação para a galera Campeadora que tomou rumo ao norte, acompanhando o cruzador até a Africa, mais precisamente, em Serra Leoa.

Os atos ocorridos na baia de Paranaguá acirraram os ânimos britânicos que exigiram uma reparação formal do governo brasileiro. Dois meses após o Incidente de Paranaguá foi aprovado à lei Eusébio de Queiros que extinguia o tráfico negreiro no Brasil e a Marinha Brasileira acompanharia a Royal Navy no patrulhamento da costa brasileiras, porém, na prática o tráfico continuou por longos anos até a sua extinção total.  

Fontes:  (IPHAN 10SR/PR, 2004) (cinco cf. SOUZA, 1885:120)
MARTINS, Romário. Histórias do Paraná. Curitiba: Travessa dos Editores, 1995, p. 289.
RIBEIRO, Egberto. "A Escuna Astro". Curitiba: 2009, 180 pgs. Publicado pelo autor em pdf. ISBN 978-85-906811-2-0
Jornal do Commércio - junho 1850 - Acervo de Microfilmagem da Biblioteca Pública do Paraná.